
[contém spoiler]
Taika Waititi (Jojo Rabbit), diretor de “Thor: amor e trovão”, ao entrar no universo cinematográfico da Marvel dividiu os fãs em: os que amam a construção do roteiro, relativamente ousado, de “Thor: Ragnarok” e os que acreditam que colocar o personagem em um arco narrativo com um viés cômico mais forte foi desperdiçar a possível complexidade dele. No entanto, o toque de leveza e comicidade do diretor corresponde bem ao desenvolvimento cinematográfico do universo Marvel nas telonas. A cada lançamento percebemos que os conflitos se tornam mais bobos, os motivos frágeis demais e uma desconexão da narrativa com as próprias regras propostas.
Universo cinematográfico Marvel: uma fórmula dentro da fórmula
Em “Thor: Amor e Trovão” a narrativa estabelece o futuro da estrutura dos filmes do universo, sugerindo que para ter sucesso é necessário considerar o fan service, um elenco de grandes estrelas e um gancho que mantenha vivo a continuidade dos filmes. Ou seja, a narrativa precisa respeitar uma espécie de fórmula dentro da própria estrutura de roteiro, que por sua vez oferece um tom característico e rentável. Porém, coloca em risco o desenvolvimento dos personagens, diminui o tempo de tela entre eles e retira qualquer possibilidade de complexidade. Ou seja, a nossa relação fica tão comprometida que é difícil até esboçar alguma reação no decorrer do filme.
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Qual é a cara do cinema nacional?
A leveza da direção e o universo lúdico trabalhado muito bem em “Jojo Rabbit“, principalmente por criar um contraponto ao contexto da segunda guerra e da perseguição aos Judeus, trouxe para “Thor: Amor e Trovão” uma redundância. Até as piadas características do universo MCU, inicialmente ousadas, encontram-se perdidas e a melhor saída que o roteiro encontrou foi um exército de crianças (wtf).

Um filme para sessão da tarde
No geral, entre as decisões mais esdrúxulas do roteiro, incluindo um Zeus (Russell Crowe) errático e que poderia muito bem ter saído do congresso nacional de 2022, o filme acerta na escolha do vilão Gorr, vivido por Christian Bale. O ator traz algumas nuances do cinema de horror e alguns maneirismos que nos fazem lembrar do Patrick Bateman, de “Psicopata Americano“. Apesar disso, ele não foge da estrutura que restringe os vilões ao arco: motivo questionável, arrependimento e influência no gancho de sequência.
“Thor: Amor e Trovão” vale a pena?
Se você gosta da estrutura característica e do universo em questão, vale sim. Porém, não vá com muitas expectativas ou esperando grandes plots. Muito embora o vigor de Natalie Portman como a Poderosa Thor seja interessante, não há tempo de tela suficiente para admirarmos os músculos da garota ou a promessa das relação que ela cultiva, seja com o herói que dá nome ao filme ou com a rainha Valquíria (Tessa Thompson).