“O Círculo” é uma abordagem máxima sobre o possível futuro da humanidade na cultura digital, e com isso, a morte da privacidade. Claramente tenta beber da mesma fonte que Jogos Vorazes e O Show de Thruman, abordando um cenário de distopia e uma força totalitária no controle, nesse caso uma empresa privada, que da liberdade extrema vai à supervisão completa. O filme, adaptado do romance homônimo de Dave Eggers, lançado em 2013, é dirigido por James Ponsoldt (The Spectacular Now), e aborda uma corporação chamada The Circle que busca o monopólio da informação e armazena enormes quantidades de dados dos seus usuários. A empresa em posse de todos os dados dos envolvidos ilude-os, cliente interno e externo, com a promessa de que a total transparência traz uma democracia efetiva, apelando para o espírito revolucionário que mora na maioria dos jovens. Mas, não se engane, é tudo para sua própria conveniência.
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O futuro digital fascista que o filme imagina é intrigante ao contemplar em sua abordagem principal algo teoricamente do futuro, mas que já está aqui e é alimentado por todos nós, que nos empolgamos e nos fascinamos pelo poder de conexão vindo da tecnologia, e com a falsa sensação de completude. Afinal, você nunca está sozinho. Dessa mesma forma, sedenta por um mínimo de qualidade de vida, temos Mae Holland (Emma Watson), que vive infeliz no seu trabalho e é indicada por uma amiga que já trabalha no local para uma entrevista. Ao ser contratada, fica muito empolgada com possibilidade de estar perto das pessoas mais poderosas do mundo. Logo nos primeiros dias na empresa ela percebe que a cultura do local é um pouco diferente do tradicional. Atividades extras em excesso que não faz parte da sua função são cobradas em conversas não formais e, naturalmente, ela passa a desaguar em uma via única a vida social, o lazer e a vida profissional.

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Se destacando cada vez mais na companhia, Mae Holland, desfruta do seu potencial social e se propõe adotar um estilo de vida de transparência total. Uma mistura de Big Brother e O Show de Truman. É impossível não relacionar tais momentos com as inúmeras funções de stories que invadiram o universo digital nos últimos meses. Porém, apesar da protagonista ter uma personalidade ambígua e boa parte da trama viver um dilema moral, causado entre a linha tênue dos seus interesses, o que deve ser público e o que deve ser privado que atentamos para a nossa posição na realidade. Nós reclamamos de ausência de privacidade e dos nossos dados terem virado produtos, mas somos NÓS mesmos que compartilhamos a nossa vida. É nesse momento que o longa ganha um pouco de grandiosidade, ao questionar o espectador. Qual sociedade estamos construindo para nós mesmos? Até onde vai o ego, a necessidade de auto afirmação e a carência? Partindo do pressuposto que é na ânsia de sanar nossas mazelas que buscamos desesperadamente atenção alheia, ao invés de desenvolvimento pessoal.

Nessa corrida para compartilhar estranhamos os que não se identificam e preferem ficar de fora. Logo, podemos observar um resumo traduzido no filme muito próximo a uma história da era das caças de bruxas + o excesso de participação compulsiva = Uma proposta genial e feita para a razão. Porém, por mais que a proposta seja muito boa, o filme não é tão impactante quanto poderia. O grande ponto de virada é previsível e pouco explorado, talvez, de forma proposital para empregar uma superficialidade aos fatos e a característica de que as notícias e eventos na era digital levam pouco mais de três dias para serem superadas. A realidade é que ao tentar entregar uma distopia, entrega uma metáfora do mundo moderno e um aviso sobre como uma sociedade de vigilância irá funcionar. Ou seja, não subestime o que ele diz sobre o nosso comportamento em relação aos limites na era digital.
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