
Dirigido por Patty Jenkins, Mulher-Maravilha 1984 (2020) conta a história da heroína Diana Prince (Gal Gadot) vivendo longe das amazonas no período pós-guerra, quarenta anos após os acontecimentos do primeiro filme. O longa reconhece o sucesso do seu antecessor e aposta na repetição de algumas fórmulas e do flerte com o arquétipo do herói acima de qualquer maldade. Um perfil de personagem pouco distante do nosso tempo, mas já consagrado em filmes como Superman, de Christopher Reeve, em 1978.
Expectativa em alta
Afinal, o primeiro mexeu muito comigo e era de se esperar que o segundo fizesse pelo menos a mesma coisa. Porém, questões técnicas da construção cinematográfica tiraram o brilho do filme. Ao meu ver, a culpa disso foi aplicar a mesma receita do primeiro aqui, sem levar em consideração que não estamos mais falando de um filme de origem e também não estamos mais acompanhando a formação de caráter da protagonista.
Passo a passo da construção narrativa se repete, desde a dobradinha dos protagonistas à construção de quem é e quem Diana está se tornando: uma mulher imbatível acima de qualquer complexidade humana. Porém, não é exatamente a complexidade e dualidade dos personagens que nos aproximam dele?

O ponto alto do filme é a personagem de Kristen Wiig. Ela sim é humana, complexa, cheia de questões… A gente torce por ela até quando sabe que ela pesou a mão, em uma determinada cena antes de se tornar a mulher leopardo. Porém, a motivação para ela ser quem ela está se tornando é fraca. Pior, ainda reforça o estereótipo de que toda mulher tímida e na sua anseia por aprender a usar salto e ser o centro das atenções. E é aí que mora meu grande problema com o filme.
Perdeu o rótulo de filme feminista mas é uma boa diversão
Mulher-Maravilha é um filme deveras importante, não só pela representatividade mas por ser criado sob olhos de mulheres; direção, protagonismo e parte do roteiro. Ou seja, deve representar a visão que temos de nós mesmas (a visão progressista), não é uma regra, claro, mas uma proposta que o longa desde sempre abraçou. E aí, ao lidar com questões tabus da sociedade, como a rivalidade feminina, precisa entrar e sair do assunto de maneira clara e objetiva, ratificando a quebra dos estereótipos, não reforçando-os ou deixando sem resolução.

Tecnicamente, a trilha, assinada por Hans Zimmer, também é algo que se repete porém nos momentos certos e com picos de novidades. A fotografia continua exagerada com muitas cores e luzes (faz parte do tema e da direção de arte, nesse caso), mas também não traz nenhum novo recurso. A montagem, que deveria ser prima-irmã do roteiro, peca em alguns pontos ao avançar sem maiores explicações, deixando as falhas do roteiro ainda mais claras. E… por fim, os vilões continuam caricatos, como se o filme tivesse saído direto do cartoon network.
O cinema reflete o tempo em que vive
…e, a direção parece brincar com isso, como se estivesse falando: “vou construir uma personagem com características deveras fortes, capaz de deixar seu lado humano e egoísta de lado, mas, ao mesmo tempo, não tão forte quanto o poder da coletividade”. Deixando na entrelinha a mensagem de que nós, enquanto sociedade, somos mais fortes de qualquer um, até alguém que dedique a vida a ser herói. No final do dia, quem nos salva, somos nós mesmos.