
Um dos maiores clássicos do cinema de terror, “Halloween” conta a história de Michael Myers, que ainda criança mata sua irmã mais velha a sangue frio e é enviado para uma instituição psiquiátrica, onde fica aprisionado durante quinze anos. Até a fatídica noite onde consegue fugir, para o desespero de Sam Loomis, seu psiquiatra. Loomis acredita que Michael sequer seja humano, e sim uma representação viva do mal. Ao fugir da instituição, Michael segue para sua cidade natal, onde começa a aterrorizar a noite de um grupo de adolescentes, entre eles Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), uma das final girls mais icônicas do cinema. O filme se passa na noite de Halloween, e segue os passos de Michael enquanto ele acaba com os amigos de Laurie um por um, e a busca frenética do Dr. Loomis para encontrá-lo antes que seja tarde demais.
Um clássico do slasher
“Halloween” é um clássico por vários fatores: a forma que John Carpenter dirige o filme é digna dos elogios que o mesmo recebe até hoje. O jeito que ele é capaz de criar uma tensão absurda em todas as cenas que o Michael aparece é espetacular. Até mesmo nos momentos onde ele não está em cena, sua presença é sempre sentida, o que não deixa o espectador relaxar em nenhum momento. E quem não conhece a música tema de arrepiar? Você pode até não ter assistido o filme ainda, mas com certeza já a escutou por aí em algum lugar e talvez nem saiba sua origem.
As mortes brutais são algo de assistir roendo as unhas, e a falta de sangue nessas cenas não as torna menos assustadoras. É engraçado assistir o filme hoje, sabendo todo o gore que ele já inspirou em outras obras, e ver o quanto ele é restrito em tantos aspectos. Não que o orçamento do filme permitisse muita coisa: ele foi feito por uma quantia em torno de 300-325 mil dólares, quase nada para uma produção cinematográfica, mesmo nos anos 70. Porém ele conquistou o público, que fez uma grande divulgação boca a boca e resultou no filme faturando entre 60-70 milhões, dando carta verde para que as sequências começassem a ser produzidas.

A final girl de John Carpenter
O filme é um dos primeiros citados quando o assunto são as final girls do cinema, pois Laurie se encaixa bem no estereótipo criado para esse tipo de personagem. O termo criado por Carol J. Clover no seu livro “Men, Women and Chainsaws”, de 1992, se refere às personagens femininas sobreviventes dos filmes de terror. Laurie é o exemplo perfeito da definição inicial: é uma garota “pura” que morre de medo de relacionamentos amorosos, fica implícito que ela é virgem, quando experimenta maconha passa o tempo todo com a cara feia de quem não está gostando nem um pouco daquilo, e no fim das contas, apesar de seus esforços, é salva por outra pessoa. Mas não podemos tirar seu crédito completamente: afinal, se Michael Myers fosse humano, Laurie muito provavelmente teria obtido sucesso nos seus ataques contra ele.
Carpenter afirma não ter feito seu filme com a intenção de passar uma imagem moralista onde todo mundo que faz sexo morre propositalmente, e que estava tentando apenas retratar como adolescentes realmente agiam. Mas o fato é que querendo ou não, “Halloween” acabou criando um precedente enorme para esse tipo de história ser criada 100% com a intenção de demonstrar que “boas garotas” só sobrevivem quando são “boas garotas”. Ou seja, elas precisam agir de acordo com o que o patriarcado define como uma mulher “de respeito”.
Laurie se encaixa nessa definição. Até mesmo depois de saber que o garoto que ela gosta também gosta dela, ela fica em pânico e tenta desmarcar um possível encontro com ele arrumado pela sua amiga. Esse já não é o caso das outras personagens femininas do filme. Tem uma cena específica onde uma delas termina uma relação sexual, imediatamente acende um cigarro e depois pede para o namorado pegar uma cerveja para ambos, enquanto senta nua na cama. Enquanto Carpenter pode ter tentado passar apenas a imagem de dois adolescentes relaxando, aquilo é o suprassumo de todos os medos dos pais de adolescentes em uma imagem só.
Mas afinal, Halloween vale a pena?
Mas o que Halloween conseguiu fazer no cinema de horror é um feito que merece ser celebrado da forma que é. Não que o filme seja perfeito: seu ritmo, por exemplo, às vezes fica cansativo mesmo tendo apenas uma hora e meia de duração. O que pode deixar a audiência que está acostumada com o ritmo frenético dos filmes de terror mais recentes bastante entediada. Mas para quem se considera um amante da sétima arte, ele é um filme indispensável. Além de ser, simplesmente, um filme de terror que entretém bastante – fato que causou seu enorme sucesso inicial.
“Halloween” foi um dos filmes citados no primeiro episódio da segunda temporada do podcast Adoráveis Cinéfilas. Eu e a Cacau Barros batemos um papo com a Maitê Mendonça, criadora da página @finalgirlbr no Instagram. Para nos ouvir falando sobre a definição do termo “final girl” e a história desse subgênero, clica aqui e vem escutar!