“Flow” é uma animação letã que nos surpreende com sua narrativa silenciosa, mas carregada de sentimento e significado. O filme não se propõe a ser infantil, tampouco oferece explicações simplistas – ele convida o espectador a mergulhar em uma experiência sensorial que valoriza a inteligência e a imaginação. Assim como “Wall‑E”, que utiliza o poder dos visuais para contar uma história de amor e resiliência sem depender excessivamente de diálogos, “Flow” se posiciona como uma obra que respeita a capacidade interpretativa do público.

Além disso, a obra dialoga com a mesma essência de “O Menino e o Mundo”, onde imagens e cores criam um universo poético para refletir sobre relações e transformações, sem cair na tentação de explicitar cada detalhe. Filmes como “O Menino e a Garça” também reforçam essa tendência: a narrativa visual, quase silenciosa, desperta uma empatia genuína, evidenciando que a sutileza pode ser muito mais impactante que o sensacionalismo.
Com indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Animação e Melhor Filme Internacional, e a conquista do Globo de Ouro, “Flow” não só reafirma seu mérito artístico como também coloca a Letônia no mapa do cinema mundial. Em resumo, é lindo e incrível – uma obra singela e encantadora que fala de adaptação, relações e, sobretudo, da profundidade da empatia.

Além de toda sua beleza estética e narrativa, “Flow” me tocou profundamente. O filme se proõe a ser um reflexo dos nossos medos mais profundos sobre a finitude humana e a incansável busca por sobrevivência. A jornada do gatinho também evidencia as amizades que construímos pelo caminho, as belezas que descobrimos ao longo da vida – mas, inevitavelmente, nos lembra que tudo isso é finito, independente do que façamos. Há algo de nietzschiano nessa abordagem, um olhar quase existencialista sobre a efemeridade da vida e a aceitação de que, no fluxo do tempo, seguimos apenas até onde a corrente nos leva.