
Dirigido por Harry Bradbeer (Fleabag) e adaptado para o cinema por Jack Thorne, Enola Holmes (2020) é baseado na série de livros de Nancy Springer. O filme procura ter um olhar diferente sobre o cenário em que vivia o famoso personagem de Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock, que dispensa apresentações. Ambientado na Inglaterra de 1884 e com o fundo histórico do sufrágio feminino, Enola Holmes (Millie Bobby Brown) acorda na manhã de seu 16º aniversário para descobrir que sua mãe (Helena Bonham Carter) desapareceu.
O filme é sobre a ação e a aventura na jornada para encontrar a mãe. Aqui, ao falar da relação entre as duas, é importante salientar que a relação entre elas é sensível, bonita e de muito empoderamento. Enola não é uma garota comum à época; ela sabe lutar, jogar xadrex e tem uma perspicacia absurda. No entanto, o pano de fundo feminista me incomoda muito ao reconhecer nos seus irmãos papéis de gênero bem determinados. Sherlock, vivido por Henry Cavill, é o típico homem branco hetéro e isentão. Sua atuação é mediana, sem muito destaque mas aposto que foi o salário mais alto da obra e é nesses momento que eu me pergunto: ok, é um filme que se vende como feminista, mas feminismo pra quem?!

Já o personagem Mycroft (Sam Claflin) é o retrato das imposições de gênero da época, não há desenvolvimento ou curva dramática, o que pode ser até compreensível para a função dele no filme mas infelizmente sugere uma certa preguiça do roteiro. O que é reforçado por outras características do filme, já que outros personagens também estão nessa mesma seara: do “vir pronto”. Acontece o mesmo com o Lord Tewksbury (Louis Partridge). No entanto, o personagem de Louis Partidge, apesar do pouco desenvolvimento, é um menino que não assume as convenções de gênero comum, há sensibilidade e há uma sutileza muito singela, o que reforçou a química entre ele e Enola, e faz com que ele já seja apresentado através de um olhar diferente.

No final das contas, Enola não me gera empolgação ao observar todos os pontos criticamente, mas não chega a ser um desserviço ao feminismo. Ele conversa com minha alma adolescente e feminista, porém, não passa disso. Sejamos atentos: Enola é dirigido e roteirizado por homens, aqui, a mulher protagonista é retratada através do olhar masculino também conhecido como “Male Gaze”. Ou seja, personagens feminismo que atendem a expectativa dos homens: uma mulher com a igenuidade de uma criança, com habilidades que um homem possa aprovar e que considere o homem um ser incrível. Ah, e, claro, que esteja dentro dos padrões de beleza. É como se fosse uma cartilha de aprovação masculina.