Se o papel do crítico de cinema é levar os holofotes para um determinado filme, incitar a autonomia do pensamento e inteligencia do espectador, é provável que o maior de todos tenha sido o francês André Bazin (1918-58), fundador da famosa Cahiers du Cinéma e considerado mentor da geração de críticos-cineastas da Nouvelle Vague. Abaixo, a carta de 1958, no alto da polêmica Kurosawa vs Mizoguchi na redação da Cahiers du Cinéma, pouco antes da morte de Bazin, em novembro do mesmo ano.

“Lamento não ter podido rever com vocês, na Cinemateca, os filmes de Mizoguchi. Coloco-o tão alto quanto vocês e acho que o amo ainda mais amando também Kurosawa, que é a outra vertente da montanha: pode-se conhecer o dia sem a noite? Detestar Kurosawa para amar Mizoguchi não passa de um primeiro estágio de compreensão. Por certo, quem preferisse Kurosawa seria um cego irremediável, mas quem só ama Mizoguchi é um caolho. Há em toda a arte um veio contemplativo e um veio expressionista…”.
Está no prefácio do livro O Cinema da Crueldade.